domingo, 16 de maio de 2010

O Futuro é uma astronave que tentamos pilotar.

Nascemos, vivemos e posteriormente para alguns a escuridão da morte, para outros uma nova vida.

Pelo menos em um ponto todos concordam: a vida passa muito rápido. Quando se percebe, a vida já proporcionou as oportunidades merecidas. Ai é que aparece o tal do arrependimento. Na verdade, todas as pessoas deveriam aproveitar a vida de forma positiva, seja cantando, dançando ou inventando coisas para o bem da humanidade. O importante é que estejam satisfeitas naquilo que fazem. Ninguém sabe o dia de amanhã, mas temos que ter em mente que nossas escolhas geram muitas possibilidades, e temos que estar cientes das conseqüências.

Ora, entretanto a mente humana não aceita o desconhecimento do futuro. Nossa natureza de dúvidas e curiosidades nos leva a busca incessante pelo infinito. Muitos querem ser um Deus, outros o matam e alguns morrem em busca dele. Todo ser humano tem medo do futuro e de como se aproxima tão rápido. Como já diria Toquinho “o futuro é uma astronave que tentamos pilotar”, mas que infelizmente não conseguimos nem nos sentar na astronave, pois somos meros telespectadores. A verdade é que em um mundo repleto pelos caos e falta de amor o homem não pode e nem deve cair na mais profunda escuridão que é a falta de vontade de viver e ser feliz. É o que se chama de miséria global, que também pode ser a falta de comida, mas principalmente a omissão a vida, a falta de ir à busca de um futuro melhor.

Muitos se acomodam com a vida que levam, alguns tentam, mas desistem no meio do caminho por se satisfazem com pouco e poucos conseguem chegar ao topo da vida, produzindo algo para a humanidade, ou pelo menos indo em busca da felicidade e das dúvidas em que carrega. Portanto viver é seguir em frente, mesmo com obstáculos.

A Chegada de Lampião ao Inferno-Cordel

Lampião no Inferno

Autor: José Pachêco

Um cabra de Lampião
Por nome Pilão Deitado
Que morreu numa trincheira
Em certo tempo passado
Agora pelo sertão
Anda correndo visão
Fazendo mal-assombrado

E foi quem trouxe a notícia
Que viu Lampião chegar
O Inferno nesse dia
Faltou pouco pra virar
Incendiou-se o mercado
Morreu tanto cão queimado
Que faz pena até contar

Morreu a mãe de Canguinha
O pai de Forrobodó
Três netos de Parafuso
Um cão chamado Cotó
Escapuliu Boca Ensossa
E uma moleca moça
Quase queimava o "totó”

Morreram 100 negros velhos
Que não trabalhavam mais
Um cão chamado Trás-cá
Vira-volta e Capataz
Tromba Suja e Bigodeira
Um cão chamado Goteira
Cunhado de Satanás.

Vamos tratar da chegada
Quando Lampião bateu
Um moleque ainda moço
No portão apareceu
- Quem é você, cavalheiro?
- Moleque eu sou cangaceiro!
Lampião lhe respondeu.

- Moleque não, sou vigia!
E não sou seu "pariceiro"
E você aqui não entrar
Sem dizer quem é primeiro...
- Moleque, abra o portão
Saiba que eu sou Lampião
Assombro do mundo inteiro!

Então, esse tal vigia
Que trabalha no portão
Dá pisa que voa cinza
Não procura distinção
O negro escreveu não leu
A macaíba comeu
Lá não se o usa perdão.

O vigia disse assim:
Fique fora que eu entro
Vou conversar com o chefe
No gabinete do centro
Por certo ele não lhe quer
Mas conforme o que disser
Eu levo o senhor pra dentro.

Lampião disse: - Vá logo,
Quem conversa perde hora
Vá depressa e volte já
Eu quero pouca demora
Se não me derem ingresso
Eu viro tudo "asavesso"
Toco fogo e vou embora.

O vigia foi e disse
A Satanás, no salão:
- Saiba vossa senhoria
Que aí chegou Lampião,
Dizendo que quer entrar
E eu vim lhe perguntar
Se dou ingresso ou não?

- Não senhor, Satanás disse,
Vá dizer que vá embora
Só me chega gente ruim?
Eu ando muito caipora
Estou até com vontade
De botar mais da metade
Dos que têm aqui pra fora!

- Lampião é um bandido
Ladrão da honestidade
Só vem desmoralizar
A minha propriedade
Mesmo eu não vou procurar
Sarna para me coçar
Sem haver necessidade.

Disse o vigia: - Patrão
A coisa vai arruinar
Eu sei que ele se dana
Quando não puder entrar
Satanás disse: - Isso é nada,
Convide aí a negrada
E leve o que precisar.

- Leve três dúzias de negros
Entre homem e mulher
Vá na loja de ferragem
Tire as armas que quiser
É bom escrever também
Pra virem os negros que têm
Mais compadre Lúcifer.

E reuniu-se a negrada
Primeiro chegou Fuxico
Com um bacamarte velho
Gritando por Cão de Bico
Que trouxesse o pau da prensa
E fosse chamar Tangença
Na casa de Maçarico.

E depois chegou Cambota
Endireitando o boné
Formigueiro, Trupe-Zupe
E o crioulo Quelé
Chegou Banzeiro e Pacaia
Rabisca e Cordão de Saia
E foram chamar Bazé.

Veio uma diaba moça
Com uma calçola de meia
Puxou a vara da cerca
Dizendo: - A coisa está feia
Hoje o negócio se dana,
E disse: - Eita, baiana
Agora a ripa vadeia.

E lá vai a tropa armada
Em direção do terreiro
Pistola, faca e facão
Cravinote e granadeiro
E um negro também vinha
Com a trempe da cozinha
E o pau de bater tempero.

Quando Lampião deu fé
Da tropa negra encostada
Disse: - Só na Abissínia
Oh! Tropa preta danada
O chefe do batalhão
Gritou: - As armas não mão
Toca-lhe fogo, negrada!

Nessa hora ouviu-se tiros
Que só pipoca no caco
Lampião pulava tanto
Que parecia um macaco
Tinha um negro nesse meio
Que durante o tiroteio
Brigou tomando tabaco.

Acabou-se o tiroteio
Por falta de munição
Mas o cacete batia
Negro embolava no chão
Pau e pedra que pegavam
Era o que as mãos achavam
Sacudiam em Lampião.

- Chega, traga um armamento!
Assim gritava o vigia,
Trás a pá de mexer doce
Lasca os ganchos de Caria
Trás os birros de Macau
Corre, vai buscar um pau
Na cerca da padaria!

Lúcifer mais Satanás
Vieram olhar do terraço
Tudo contra Lampião
De cacete, faca e braço
E o comandante no grito
Dizia: - Briga bonito,
Negrada, chega-lhe o aço!

Lampião pôde pegar
Na caveira de um boi
Sacudiu na testa dum
Ele só fez dizer: - Oi!
Ainda correu 10 braças
E caiu enchendo as calças
Mas eu não sei de que foi.

Estava a luta travada
Mais de uma hora fazia
A poeira cobria tudo
Negro embolava e gemia
Porém Lampião ferido
Ainda não tinha sido
Devido a sua energia.

Lampião pegou um checho
E o rebolou num cão
A pedrada arrebentou
A vidraça do oitão
Saiu um fogo azulado
Incendiou-se o mercado
E o armazém de algodão.

Satanás com esse incêndio
Tocou num búzio chamando
Correram todos os negros
(Os que estavam brigando)
Lampião pegou a olhar
Não viu mais com quem brigar
Também foi se retirando.

Houve grande prejuízo
No inferno, nesse dia
Queimou-se todo o dinheiro
Que Satanás possuía
Queimou-se o livro dos pontos
Perderam seiscentos contos
Somente em mercadoria.

Reclamava Satanás:
- Horror maior não precisa
Os anos ruins de safra
E agora mais essa pisa
Se não houver bom inverno
Tão cedo aqui no Inferno
Ninguém compra uma camisa.

Leitores vou terminar
Tratando de Lampião
Muito embora que não possa
Vos dar a resolução
No inferno não ficou
No céu também não chegou
Por certo está no sertão.

Quem duvidar dessa estória
Pensar que não foi assim
Querer zombar do meu sério
Não acreditando em mim
Vá comprar papel moderno
Escreva para o inferno
Mande saber de Caim.