A filosofia surgiu nos séculos VII e VI a.C nas cidades gregas situadas na Ásia Menor. A palavra é a junção de philos=amor e Sophia=sabedoria. (Lembrando que os gregos antigos se valiam de algumas expressões para expressar as diferentes formas de amor, são elas: Eros, philia, ágape, pragma e storge). Tem uma história de mais de dois mil anos. Embora vivessem em cidades-estado distintas e muitas vezes rivais entre si, os gregos conseguiram desenvolver um grande avanço da ciência na Idade Antiga, principalmente no campo do saber.
“No começo, na Grécia, a Filosofia tratava de todos os temas, já que até o séc. XIX não havia uma separação entre ciência e filosofia. Assim, na Grécia, a Filosofia incorporava todo o saber. No entanto, a Filosofia inaugurou um modo novo de tratamento dos temas a que passa a se dedicar, determinando uma mudança na forma de conhecimento do mundo até então vigente. Isto pode ser verificado a partir de uma análise da assim considerada primeiro proposição filosófica. “(Prof. Dr. Delamar José Volpato Dutra, 2001, pg. 58)
Começa por ser uma interpretação dos mitos cosmogônicos difundida pelas religiões do tempo. Pode-se dizer que se originou por conta da curiosidade e questionar os valores do senso comum ditado e aceito por todos. Segundo os dois grandes filósofos Sócrates e Platão os mitos foram à matéria inicial de reflexão dos filósofos. Ora, mas também os primeiros ensaios filosóficos levaram os sábios a formular as relações entre os indivíduos e a cidade. Daí resulta que os primeiros filósofos gregos foram legisladores, assim temos: Licurgo, Drácon, Epenemides e Periandro.
Depois surgem os chamados filósofos da natureza no período Arcaico com a Escola de Mileto (Jônica) da qual se destacaram Tales, Anaxímenes e Anamaximandro o maior dos jônicos e precursor de Demócrito, que foi físico, astrônomo e matemático. Na concepção desta escola tudo na natureza descendia de um elemento básico (água, ar ou matéria). Atribuí-se a Tales a seguinte afirmação: “todas as coisas estão cheias de deuses”. Entretanto posteriormente muitos filósofos não deram muita importância a Tales de Mileto e passaram a criticá-lo por conta de sua filosofia barata e absurda. Mas alguns outros filósofos seguiram o caminho oposto das críticas como Nietzsche:
"a filosofia grega parece começar com uma idéia absurda, com a proposição: a água é a origem e a matiz de todas as coisas. Será mesmo necessário deter-nos nela e levá-la a sério? Sim, e por três razões: em primeiro lugar, porque essa proposição enuncia algo sobre a origem das coisas; em segundo lugar, porque o faz sem imagem e fabulação; e, enfim, em terceiro lugar, porque nela, embora apenas em estado de crisália , está contido o pensamento: ‘Tudo é um’. A razão citada em primeiro lugar deixa Tales ainda em comunidade com os religiosos e supersticiosos, a segunda o tira dessa sociedade e o mostra como investigador da natureza, mas, em virtude da terceira, Tales se torna o primeiro filósofo grego”. (Friedrich. Nietzsche, 1832, pg. 60)
Depois da escola Jônica aparece a escola Itálica que tem como fundador Pitágoras de Samos. A escola prega que tudo se baseia ao número, forma e harmonia das esferas. A posteriori surge a escola Eleática, esta prega o idealismo absoluto fora do que é real. Para o fundador desta escola Xenófane só a inteligência pode chegar a compreender os princípios fundamentais da vida e também negou o politeísmo e criou o monoteísmo. Parmênides e Zenon continuaram a obra de Xenófane, para eles não há nascimento nem morte, tudo é eterno e imperecível, os sentidos nos enganam; tudo é aparência e por trás desta está à realidade absoluta.
Mas Posteriormente, com a questão do princípio fundamental único entrando em crise, surge a sofística, e o foco muda do cosmo para o homem e o problema moral. Os sofistas andavam pela Grécia, de cidade em cidade, fazendo discursos, formando discípulos e participando de debates. Por seus serviços os sofistas cobravam altas taxas e foram, na verdade, os primeiros gregos a cobrarem dinheiro para transmitir seus conhecimentos. Os sofistas não eram, falando em termos técnicos, filósofos, mas ensinavam tudo aquilo que se lhes demandasse. Eram tópicos variados como retórica, política, gramática, etimologia, história, física e matemática. . Logo alcançaram o status de mestres da virtude no sentido de que ensinavam as pessoas a desempenharem seus papéis dentro do Estado. Protágoras de Abdera, nascido em cerca de 445 a.C. é considerado como o primeiro Sofista. Outros que se destacaram foram Górgias de Leontini, Pródico de Ceos e Hípias de Elis. Onde quer que eles aparecessem, especialmente em Atenas, eram recebidos com entusiasmo e muitos se ajuntavam para ouvi-los. Até mesmo pessoas como Péricles, Eurípides e Sócrates desfrutavam de sua companhia. Ora, mas porque os sofistas tiveram uma tamanha aceitação na Grécia Antiga? Pois a carreira mais popular na Grécia naquela época era a habilidade na política. Assim, os sofistas concentraram seus esforços no ensino da retórica. Os objetivos dos jovens políticos que eles treinavam eram o de persuadir as multidões de tudo o que quisessem que elas acreditassem. A busca da verdade não era a sua prioridade. Conseqüentemente os sofistas se empenhavam em providenciar um estoque de argumentos sobre qualquer que fosse o assunto, ou ainda para provar qualquer posição. Vangloriavam-se de sua habilidade de fazer com que o pior parecesse melhor, de provar que preto era branco. Contudo adotando esta maneira de trabalhar e desenvolver a retórica os sofistas foram muitos criticados por Platão. Através de Platão ficamos sabendo que havia certo preconceito sobre o título de "sofista". Na época de Aristóteles esse título sustenta um significado de insolência à medida que define "sofista" como uma pessoa que faz uso da razão de maneira falsa para obter lucros.
Na época auge dos sofistas estes não eram os únicos, pois no mesmo período também tivemos Sócrates que filosofava com as pessoas nas ruas de Atenas. Infelizmente as únicas fontes que temos deste é através de seu aluno Platão e que muitos autores duvidam da existência de Sócrates. Mas o que se sabe é que ele foi moralmente, intelectualmente e filosoficamente diferente de seus contemporâneos atenienses. Quando estava sendo julgado por heresia e por corromper a juventude, usou seu método de elenchos (método utilizado para o questionamento) para demonstrar as crenças errôneas de seus julgadores. Sócrates acredita na imortalidade da alma e que teria recebido, em um certo momento de sua vida, uma missão especial do deus Apolo através de uma mensagem do Oráculo de Delfos. A mensagem era a seguinte: "conhece-te a ti mesmo". Sócrates também duvidava da idéia sofista de que a arete (virtude) podia ser ensinada. Acreditava que a excelência moral é uma questão de inspiração e não de parentesco, pois pais moralmente perfeitos não tinham filhos semelhantes a eles. Isso talvez tenha sido a causa de não ter se importado muito com o futuro de seus próprios filhos. Sócrates freqüentemente dizia que suas idéias não são próprias, mas de seus mestres, entre eles Pródico e Anaxágoras de Clazômenas .
Então Sócrates não recebia pagamento pelo que ensinava. Dispensava gratuitamente o seu saber a quem dele necessitava. Contudo, foi considerado por muitos como sofista porque aparentemente exercia o mesmo ofício. Como eles, instruía a juventude, discutia em público política e moral, religião e por vezes arte e, como eles, criticava com vigor e subtileza as noções tradicionais nas diferentes matérias. Como diz Bonnard: ele era o "príncipe dos sofistas”, o mais insidioso dos corruptores da juventude. “O mais culpado também: os outros são estrangeiros, ele é cidadão”. (1980, pg. 439)
A sua motivação de ordem pedagógica distingue-se ainda da dos sofistas, na medida em que estes praticavam um ensino desligado de preocupações de ordem ética. Como diz Landormy: “Fingiam "adotar as opiniões comuns, a moral das pessoas honestas, os preconceitos ou as superstições do povo”, (1985, pg.15), de modo a agradarem ao maior número de pessoas. O seu objetivo principal era agradar de forma a obterem os seus proveitos próprios, sem atenção aos valores essenciais. Daí o uso artificioso da oratória e da retórica como forma precisamente de, através da palavra, conseguir persuadir os cidadãos.
"Sócrates quer educar o seu povo, conduzi-lo à consciência do seu verdadeiro bem, ao perigo e à nobreza da escolha. Quer libertá-lo da servil obediência à opinião estabelecida, para comprometê-lo no livre serviço da verdade severamente verificada. Quer tirá-lo da infância, que pensa e age por imitação e constrangimento, para fazer dele um povo adulto, capaz de agir por razão, de praticar a virtude não por temor das leis e do poder (ou de deuses ao seu dispor), mas porque sabe de ciência certa que a felicidade é idêntica à virtude" . (Bonnard,1980, pg. 442)
Sócrates acreditava que se, através do seu método, conseguisse levar as pessoas a descobrirem o que é a aretê, então esta descoberta obrigaria os seus interlocutores a agir de forma virtuosa. No Protágoras, a pergunta pela ensinabilidade da virtude é central. Pode a virtude ser ensinada? O ponto curioso deste diálogo é que, na primeira fase da discussão, Sócrates dúvida que a virtude possa ser ensinada, enquanto Protágoras, como sofista, entende que sim. Mas, no decorrer da argumentação, Sócrates vai analisar as várias virtudes e conclui que todas elas são uma única, que todas se identificam com o conhecimento do Bem. Nesse momento, acaba por concluir que a virtude pode ser ensinada e é Protágoras quem passa a considerar duvidosa essa possibilidade. Sócrates combateu os sofistas, julgou com severidade o uso que faziam da arte da palavra, que segundo ele não visava estabelecer o verdadeiro, mas produzir a aparência. Sócrates defendia energicamente a necessidade e a possibilidade de conhecer a verdade. Amava-a acima de tudo e tomou como ocupação exclusiva da sua vida, ajudar a descobrir em cada homem a verdade que nele existia. Mesmo sem salário e quase sem esperança, exerceu até a morte este serviço de educador do seu povo, o mais insubmisso de todos os povos. E esta era sua maneira de ser cidadão.
Mas, os cidadãos atenienses não souberam compreender Sócrates. Ele amava a juventude. Amava a sua cidade. Foi por ela que viveu e foi por ela que consentiu morrer. Acusado injustamente por uma elite ateniense que ficara envergonhada por não conseguir responder perguntas de Sócrates e que também não entenderam sua forma de filosofia, a de indagar e fazer os cidadãos pensarem e não somente acomodados com uma situação qualquer. Um de seus inimigos foi o teatrólogo Aristófanes. Morreu com dignidade e com sua calma incompreensível rodeado de amigos que fizera ao longo de sua jornada, ao beber a sicuta deitou-se e esperou sua alma alcançar o outro lado da existência, o que ele sempre acreditava.
Costuma-se atribuir a Sócrates de forma errônea como sendo o primeiro filósofo existente. Mas percebe-se que ele foi sem dúvida alguma o marco para a filosofia, com ele temas como ética, política, como ser cidadão e questões como a imortalidade da alma foram colocadas em xeque. Provavelmente sem a existência e grande influência de Sócrates não teríamos outros grandes filósofos posteriormente como Platão e conseqüentemente Aristóteles. Portanto a base primordial da Filosofia grega era a busca de um amor pela sabedoria, focando mais o saber para não se tornar um cidadão acomodado. Amar a sabedoria acima de tudo era o objetivo principal, mas buscar uma equiparação entre o amor e a plena sabedoria sem dúvida era o objeto de desejo de todos. A evolução na forma de pensar e agir dos gregos antigos mostra-nos a sua sede pelo “Sapere Aude” (Ouse Saber) como dizia Immanuel Kant.
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