terça-feira, 5 de julho de 2011

O Futuro de uma ilusão segundo Freud


Sigmund Freud, o pai da psicanálise. Criador de uma nova área na ciência médica que revolucionou o tratamento de doenças até então ineficazes as tentativas tradicionais. A partir do sucesso do método psicanalítico lançou-se sobre o poder que as religiões traziam em seu ventre e o motivo pelo qual tais sentimentos nasciam no interior do ser humano. Freud lançou diversas obras tratando sobre religiões. Entre elas destaco duas: Moisés e o Monoteísmo, Totem e Tabu e O futuro de uma ilusão.
Quando adentrei a Universidade nunca imaginei o impacto psicológico e racional que as aulas de Filosofia com o querido Mestre e Psicólogo Antônio Carlos Guimarães iriam me causar. E digo que foi extremamente confuso ao primeiro momento, mas positivo ao final do semestre. Ao longo de algum tempo aprofundei e ainda tento aprofundar através de leituras o fenômeno religioso através da ótica psicanalista recorrendo a autores como Freud. Primeiramente li um artigo intitulado Luto e Melancolia no qual Freud trata de forma espetacular um assunto renegado e ignorado por medo ou receio pela grande maioria da humanidade: a morte. Mas agora direi algo a respeito do título deste post.
Há alguns meses atrás me deparei com a obra O futuro de uma ilusão de Freud e com muita curiosidade e busca por conhecimento li esta obra. Minha intenção nas próximas linhas é falar brevemente a respeito desta obra.
Primeiramente em O futuro de uma ilusão Freud diz que a cultura tem o dever capital de proteger a humanidade das forças da natureza. O homem se sente pequeno e frágil diante das forças e catástrofes naturais. Torna-se um ser desprezível sendo seu destino colocado em dúvida, gerando em si como conseqüência um sentimento de angústia terrível. Mas como o homem se defende dos ataques da natureza e destino? A cultura tende a mostrar um meio para que o homem seja consolado diante dos problemas. O medo e a curiosidade humana fazem o ser humano a procurar algo para consolo. Este consolo teria de ser depositado em algo. Então o primeiro passo seria humanizar as forças da natureza e atribuir-lhes características e sentimentos humanos. Com isso o sentimento de pavor diminui à medida que o homem pode apaziguar a fúria da natureza através de súplicas e suborno. Logo o homem teme a natureza na qual ele humanizou. Para entendermos tal situação podemos fazer um paralelo entre a criança e o adulto. A criança indefesa tem a figura dos pais a temer, mas também tende a se sentir seguro do ataque de todos. Da mesma forma o adulto ao crescer e tentar sobreviver na amplitude deste mundo tende a se sentir órfão e necessita de uma proteção maior que o proteja do ataque alheio e da própria natureza. Portanto o homem atribui características paternas a natureza transformando-a em deuses. Mas com o tempo percebe-se que não há características santas na natureza. E sim os deuses passam a controlar a natureza e interferir nesta e no rumo do destino. Os deuses então passam a recompensar o homem pelas privações de que a cultura impõe. Freud explícita que o Deus existente na atualidade nada mais é do que uma forma condensada dos deuses existentes no passado. Este Deus de qualidades bondosas pune os malfeitores com uma morte obscura e moradia no inferno. A vida após a morte completa um sentimento no qual não podemos sentir enquanto meros seres terrenos. Continua a dizer que as idéias religiosas são a forma mais preciosa da cultura, encarada assim como o de mais precioso a cultura pode transmitir ao gênero humano. Mais importante que os alimentos e etc. Portanto a humanidade acredita que não consegue sobreviver sem dar um valor importante a idéias religiosas.
Em outro ponto do livro Freud tenta explicar o que as religiões causam na humanidade. Começa a afirmar que a impotência humana é causada pelas religiões. Ele diz que na infância a relação da criança com a mãe é de amor e carinho. Já com o pai há uma relação antagônica, pois este é encarado com uma figura que protege, mas também temida. Desta forma ao crescer o adolescente percebe que sempre será uma criança e necessita de uma instância superior que o proteja emprestando as características de seu pai aos Deuses. Do qual tem medo e tenta agradá-lo. Mas como saber o fundamento da religião? Como entender o seu fundamento e engrenagem? Três respostas são na maioria das vezes ditas:
· Nossos ancestrais já adoravam
· Temos provas antigas da veracidade celestial
· Não podemos questionar tal assunto.
No passado recordemos da Inquisição em que aqueles que contrariassem os dogmas da Igreja eram condenados e mortos em uma fogueira com a presença de um público enorme, ansioso por um espetáculo que na verdade era cruel e sem graça. (Basta compararmos aos shows de funk da atualidade em que milhares de cérebros são torrados ao som de tal ritmo musical. Voltando ao livro...)
Se não podemos questionar alguns assuntos relacionados à religião então a própria está incoerente. Pois se esta não tivesse o que temer colocaria todos os fatos à mostra para serem refutados ou confirmados. O fato de nossos ancestrais adorarem não implica nada. Pois eram ignorantes e não tinham os meios de que dispomos. E o outro fato dito aos ventos de que existem provas verídicas e incontestáveis é uma calúnia. Pois tais provas estão rasuradas, falsificadas e trazem consigo um ar de muitas dúvidas. Dúvidas estas que podemos expor na atualidade em que infelizmente no passado muitos homens não poderiam expô-las devido à pressão enorme que sofriam. Chega-se a conclusão de que a religião falha no seu objetivo de sanar as dúvidas e anseios humanos. Outro ponto fundamental da obra é:
“Em que consiste a força interna das religiões? A ilusão que provocam.”
O segredo de sua força está na força de seus desejos. Logo a idéia de um ser paterno (Deus) para nos proteger das maldades da natureza e da cultura humana, uma punição aos injustos e uma continuação da vida após a morte é uma ilusão provocada pela religião. Mas ilusão não significa erro, pode vir acontecer. Ilusão seria o cumprimento de um desejo sem ter vínculo com a realidade que nos cerca. Muitas proposições religiosas podem ser comparadas a idéias delirantes.
“Dizemos a nós próprios que seria realmente muito bonito se houvesse um Deus, criador do mundo e Providência bondosa, se houvesse uma ordem moral universal e uma vida no além, mas é muito estranho que tudo isso seja da maneira como temos de desejar que seja. E seria ainda mais esquisito se nossos antepassados, pobres, ignorantes e sem liberdade, tivessem encontrado a solução de todos esses difíceis enigmas do mundo.” (Sigmund Freud, O futuro de uma ilusão.)
Freud após essa análise atenta ao fato de que não seriam também outros aspectos de nossa cultura ilusões? Então deixa em aberto para uma reflexão mais crítica a respeito.
Atualmente muitos setores da sociedade dizem que a religião apesar de carregar em si fatos duvidosos é necessária para manter um “equilíbrio” no mundo. Muitos afirmam que mesmo que se conseguisse provar que a religião carrega em si mitos e inverdades esta não poderia ser desfeita, pois a humanidade se apóia no conceito de Deus. Portanto a religião seria os alicerces da humanidade e provas existentes não poderiam ser mostradas para não causar danos ao homem. Mas segundo Freud se o homem tiver certeza de sua crença religiosa nenhuma teoria será capaz de abalar sua fé e confiança. A religião teve seu espaço para se estabelecer na vida humana, mas falhou ao deixar muitas pessoas hoje com várias dúvidas e vontade de afrontar os sistemas religiosos gerando assim uma enorme insatisfação em relação à cultura religiosa. Por fim o resultado de a religião ser tão confrontada ao longo dos tempos reside no fato desta estar perdendo espaço devido à elevação do espírito científico nas camadas superiores da população.
Tal obra de Freud foi considerada e ainda é polêmica por tratar de um assunto tão íntimo do ser humano que ao passar dos tempos vem confrontando um ser superior que parece muitas vezes invisível. Não podemos cair no engano de pequeno progresso, pois grande parte da humanidade ainda está presa nos tentáculos da "mentira religiosa".
E apenas para não passar em branco, indico tal obra.

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