sábado, 27 de novembro de 2010

África:Mitologia, Literatura e Arte

Infelizmente muitas pessoas usam a palavra mito e mitologia para desacreditar as histórias de algumas civilizações. Ou seja, usa-se como sinônimo de mentira ou de puras histórias somente para entretenimento. O fato é que a mitologia vem a ser o estudo de histórias ou lendas de uma cultura em particular (neste caso da África) creditadas como verdadeiras. Os mitos de um povo são tradições repassadas de geração em geração em que se explica a criação do mundo, fenômenos naturais e etc. A verdade é que estes mitos, lendas como queiram chamar, são resultados de uma busca incessante pela verdade. Muitas civilizações acreditavam e algumas ainda acreditam na existência de espíritos antepassados. Alguns vêem estes espíritos como ancestrais, ou como protetores e estes são expressos através de objetos, costumes e gestos.

A mitologia grega, indiana e outras chegaram até nós graças aos costumes destas civilizações de deixarem algo escrito. Então temos o apoio de uma vasta literatura que foi preservada até os dias de hoje. Já na mitologia áfrica não ocorreu isto, pois a escrita era desconhecida dos africanos de algumas regiões, ou seja, não foram gravados de forma escrita. Isto aconteceu devido ao isolamento geográfico que certas etnias estavam sujeitas. Mas vem a pergunta: Como as tradições africanas chegaram até nós?

Ora, as primeiras obras modernas foram elaboradas por escritores europeus que foram escrevendo aquilo que os povos africanos fossem relatando, pois a literatura do povo africano era oral. Hoje esta história africana já é contada pelos próprios africanos.

Mas apesar de não terem a escrita, possuíam outras formas de expressar seus sentimentos e seus costumes através de várias formas de arte. A arte africana dava maior ênfase à expressão facial e aos músculos realçando o ar de mistério. Portanto o objetivo da arte africana era funcional e expressava grande sensibilidade, havia preocupação com valores étnicos e religiosos como também a preocupação de mostrar a ligação entre o homem e a mulher. Expressavam sua forma de “escrita”, ou seja, pela arte de diversas formas como na pintura e escultura. Utilizavam várias matérias-primas para a realização das esculturas, mas a mais preferida era a madeira. Confeccionavam máscaras que tinham o significado místico e que eram usados em rituais e funerais e tinham uma função simbólica. Mas vale lembrar que no vasto continente africano nem todos possuíam as mesmas bases ideológicas, ou as mesmas formas de se expressar, pois havia uma grande diversidade cultural com mais de duas mil etnias. Podemos citar várias etnias como: Akan, Efik, Igbo, Masai e etc. Vamos falar um pouco sobre a etnia Masai.

Na África Oriental, mas precisamente no Quênia e na Tanzânia se encontrava a etnia Masai. Como várias etnias possuem sua mitologia na qual explica fenômenos naturais. Acreditavam num ser chamado Enkai guardião da chuva, da fertilidade, do sol e do amor, aquele que deu o gado ao povo Masai. De acordo com algumas fontes, Neiterkob "aquele que fundou a Terra" pode ter referência com Enkai. Neiterkob é uma deidade menor, conhecido como o mediador entre seu deus e o homem. Olapa é a deusa da Lua, casada com Enkai.

Outro povo que vale citarmos é a civilização Nok que se encontrava na Nigéria e que dominava a metalurgia. Não existe muita informação sobre ela. Mas algumas estátuas foram encontradas e estas simbolizam as forças sobrenaturais e poderosas. O que sabemos é que seu estilo artístico é uma prova importante das tradições culturais e também um dos antecedentes da habilidade que surgiu posteriormente que foi as cabeças de latão e terracota encontradas em Ifé e Benin séculos depois.

Segundo o que há registrado os africanos não representavam só a sua própria cultura. Também representavam a cultura dos estrangeiros. Um exemplo disso é um fato registrado no Reino nigeriano de Benin em que representavam os invasores dando maior ênfase ao seu armamento, deixando sua expressão facial em segundo plano, com isso acreditavam que retratando as armas poderiam adquirir seu poder e sua força mágica.

Outra coisa que deve ser mencionada aqui é que os africanos acreditavam em um Deus supremo, contudo seu nome variava de região para região. Portanto quando os europeus entraram em contato com os habitantes da África, tiraram uma conclusão precipitada: os Africanos eram pagãos e politeístas. O que não era totalmente correto, pois os Africanos também veneram um Ser Supremo: Olodumare ou Olorum, entre os Iorubas, Ciuku entre os Ibos, embora o culto seja dedicado também às divindades e aos antepassados. Contudo, para estes, nunca é usado o mesmo nome que se dá ao Ser Supremo.

Os Africanos conferem uma grande variedade de atributos morais ao Ser Supremo: bondade, clemência. Mas Ele é capaz também de mostrar ira e rancor, a ponto de matar com inundações, terremotos e outras catástrofes naturais. Uma questão bem importante sobre o Deus supremo é que quase não há templos dedicados a seu culto, já que os sacrifícios são feitos ao ar livre, pois o mundo, como um todo, é considerado templo e altar do Ser Supremo. Dificilmente encontram-se estátuas ou imagens do Ser Supremo: eles desconhecem a forma de representá-lo. Deus é visto como um ser justo, mas também com poder residente, que sustenta e anima todas as coisas. Mas também acreditam em outros espíritos como do trovão, da água, da floresta e outros. O povo africano acredita em uma vida pós morte, pois compreendem tantos os membros vivos como os mortos e os defuntos para eles não estão realmente mortos: eles só estão invisíveis e estão no reino dos espíritos. Mas nem por isso se encontram menos presentes, já que estão dotados de maiores poderes do que quando estavam vivos e, por conseguinte, em condições de realizar, com maior eficácia, os seus desígnios, tanto maus como bons, entre os que se encontram vivos na comunidade. Mas nem todos os mortos eram considerados antepassados: Têm de satisfazer certos requisitos como terem tido uma vida longa, deixado filhos que dêem continuidade à família e conduzido uma vida moralmente correta. Assim, criminosos, bruxos e afins não são dignos de se tornar antepassados. Vale pontuar que para eles vida e religião era uma coisa só, não existia separação entre sagrado e profano.

Dentro da mitologia africana merece destaque o mito da criação da terra da etnia ioruba da Nigéria que diz:

Que existia o Dono do Céu Olorum e o grande Deus Orixá Nla. Olorum ordenou que Orixá Nla criasse terrenos sólidos. Logo depois pra fiscalizar a tarefa enviou o camaleão que aprovou a tarefa realizada. O local onde se iniciou a criação é chamado de Ife e mais tarde se junto a palavra ilê, desde então a cidade mais sagrada do povo ioruba se chama Ilé-ife. A criação da terá durou quatro dias e as primeiras pessoas foram criadas no céu pelo Grande Deus que as moldava com barro, mas quem tinha o poder de dar a vida era o dono do céu Olorum. Certa vez Orixá Nla tentou espiar o Grande Deus, mas como este era esperto fez Orixá cair num sono profundo. E ainda hoje o Supremo ser Orixá Nla continua a fazer os homens, mas os deixam marcas distintas. Já a etnia Fon diz que Mavu (Lua) e Lisa (Sol) eram gêmeos e filhos de Nana Bulucu, e que estes deram origem a todos os outros deuses que também eram gêmeos. Cada Deus ficou responsável por um domínio na terra.

Existem também por toda a áfrica fábulas que tem um suporte real. Estas retratam um sentido de esperteza, falsidade e agilidade da aranha ou da lebre e com isso estas histórias servem para mostrar que estas criaturas representam o povo oprimido e nos momentos de esperteza seria como o triunfo dos mais carentes sobre os poderosos que oprimem.

Pode-se mencionar a história dos Haúças da Nigéria que contam a história da aranha que era preguiçosa. Sua mulher separou alguns amendoins para o plantio então ela resolveu se prontificar a plantar estes, só que chegando ao local deitou-se debaixo de árvores e foi comer os amendoins. Ao final do dia, pegou lama e se sujou forjando com isso que teria trabalhado bastante. Ao chegar à época da colheita sua mulher vai colher os amendoins, mas seu marido se prontifica novamente a ir, mas como não havia plantado nada resolveu roubar os amendoins do vizinho, mas demorou muito para isto e então o vizinho descobriu e então resolveu criar uma armadilha. Fez uma rapariga de resina, e a aranha ao passar perto se interessou por esta rapariga e acabou ficando preso na resina. O vizinho que estava escondido pegou um ramo de árvore aquece-o ao fogo e queimou as costas da aranha, depois a soltou e disse para que esta nunca mais tentasse roubá-lo

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